Saúde

ONG Gestos lança campanha contra discriminação a pessoas vivendo com HIV

Foto: Secretaria de Saúde do Recife

As indicações para a 3ª edição da campanha ‘Eu e Meu/Minha Profissional da Saúde‘ já estão abertas. Realizada pela ONG Gestos – Soropositividade, Comunicação e Gênero, em parceria com a International Aids Society (IAS), a iniciativa convida pessoas vivendo com HIV/Aids (PVHA) usuárias dos serviços de saúde a indicar profissionais que se destaquem pelo atendimento acolhedor e livre de estigma e/ou discriminação, contribuindo para uma resposta efetiva e humanizada ao vírus HIV. Desta vez, poderão ser indicados/as profissionais dos serviços de saúde dos estados de Pernambuco e Paraíba. As indicações são confidenciais e podem ser feitas no link até 31 de março.

Todas as categorias profissionais dos serviços de saúde podem ser indicadas, incluindo recepcionistas, vigilantes, auxiliares de serviços gerais, farmacêuticos/as, auxiliares de farmácia, médicos/as, assistentes sociais, dentistas, enfermeiros/as, etc. Ao menos uma dupla selecionada (composta pelo/a profissional indicado/a e a pessoa que o/a indicou) será homenageada remotamente durante a 25ª Conferência Internacional de Aids, que deve acontecer de 23 a 26 de julho, em Brisbane, na Austrália.
Lançada em 2015, a campanha Me & My Healthcare Provider (Eu e Meu/Minha Trabalhador(a) de Saúde, em tradução livre) tem fomentado as melhores práticas na prestação de serviços de saúde, celebrando profissionais da linha de frente que atuam nos campos da prevenção e tratamento. No Brasil, a campanha foi realizada pela primeira vez em 2019, desenvolvida pela Gestos, que selecionou profissionais da Saúde da Região Metropolitana do Recife (RMR) indicados/as pelas pessoas vivendo com HIV/AIDS.
A segunda edição aconteceu em 2022 e, com apoio da da Gilead Sciences, a campanha foi estendida para todo o estado. Naquele ano, a campanha selecionou a assistente social, Nathalya Cristhine; a ginecologista, Drª Danielle Kelly; a enfermeira, Hyla Danniele Mendonça e o infectologista Dr. Demetrius Montenegro, que foi homenageado durante a 24ª Conferência Internacional de Aids, em Montreal (Canadá).
De acordo com o último Boletim Epidemiológico HIV/Aids 2022, do Ministério da Saúde, só no último ano Pernambuco registrou 1.046 (mil e quarenta e seis) casos de HIV notificados no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan). O estado também concentra o maior número de casos notificados na região nordeste desde o início da série histórica, iniciada em 2007. Segundo dados da Secretaria de Saúde de Pernambuco, cerca de 32 mil pessoas vivendo com HIV/AIDS estão em tratamento no estado.
Mesmo assim, vencer o estigma e a discriminação nos serviços de saúde tem se mostrado um desafio para a saúde brasileira ao longo dos últimos anos. Segundo o Índice de Estigma em relação às pessoas vivendo com HIV/AIDS BRASIL – levantamento realizado por oito organizações da sociedade civil (incluindo a Gestos) em cinco capitais brasileiras (Recife, Salvador, Porto Alegre, São Paulo e Manaus), 15,3% Das quase 2.000 (duas mil) PVHAs entrevistadas afirmaram já ter sofrido algum tipo de discriminação por parte de profissionais de saúde pelo fato de viverem com HIV/Aids.
Ainda segundo o Índice, 20,6% das pessoas entrevistadas evitaram, demoraram ou não buscaram tratamento inicial após testarem positivo para o vírus HIV porque tiveram medo de serem mal tratadas por profissionais de saúde, ou mesmo que sua condição sorológica fosse revelada sem seu consentimento. 20% também revelaram que já haviam passado por más experiência com profissionais de saúde no passado.
“É importante compreender a saúde a partir de uma perspectiva ampliada e multidisciplinar, considerando o impacto das relações entre profissionais da saúde e pacientes como algo fundamental para uma resposta efetiva ao HIV e à Aids”, comenta Juliana Cesar, assessora de Programas Institucionais da Gestos. “Saúde é um Direito Humano inalienável; submeter alguém ao estigma e à discriminação dentro do serviço de saúde é uma grave violação desse direito e estabelece sérias barreiras para o controle de uma epidemia que já dura mais de 40 anos. Isso coloca vidas em risco”, avalia.
Além da homenagem durante a Conferência Internacional de Aids, a campanha também irá organizar uma atividade de formação para discutir o estigma e a discriminação de pessoas vivendo com HIV/Aids nos serviços de saúde, com a participação dos campeões e das campeãs.. Também como parte da campanha Eu e Meu/Minha Profissional de Saúde, será realizada uma exposição fotográfica composta por imagens de pessoas vivendo com HIV/Aids e abordando o tema do estigma e a discriminação.
Foto: Secretaria de Saúde do Recife
Geraldo Majela

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