As chuvas levam fartura às plantações e água aos açudes, mas, com os benefícios, há também perigos. Nessa época de precipitações instáveis, em plena quadra chuvosa cearense, a quantidade de cobras se multiplica em áreas urbanas e rurais, devido à maior incidência de seu principal alimento, o rato.
O perigo é tanto que pode causar morte imediata, como no caso da Coral, cuja picada pode levar a uma parada respiratória instantânea. A sorte é que, no Ceará, a Coral Verdadeira é mansa, não caça animal de sangue quente e vive mais escondida no solo.
Mas as serpentes peçonhentas mais populares no Estado também podem fazer vítimas fatais. Sem tratamento, o risco de morte após picada de Cascavel chega a 70%, enquanto o índice da Jararaca é 30%.
De acordo com o coordenador do Centro de Assistência Toxicológica (Ceatox) do Instituto Dr. José Frota (IJF), José Ambrósio Guimarães, o perigo cresce em três proporções: de acordo com a rapidez de difusão do veneno na corrente sangüínea, conforme a quantidade depositada no organismo da vítima e na dimensão da resistência física e até mental da pessoa.
No Brasil, é registrada uma média de 20 mil acidentes ofídicos por ano. Nos últimos 10 anos, em Fortaleza, o Ceatox tem atendido de 3.400 a 3.500 pessoas por ano, de todo o Estado, sendo a incidência de picadas de cobras peçonhentas maior nessa época do ano.
A última estatística fechada do Centro, de 2002, revela que 52 pessoas foram picadas por cobras peçonhentas e 340 por animais não-peçonhentos, principalmente Salamanta (cobra-de-veado).
De acordo com José Ambrósio, nessa época do ano as cobras procriam mais. Isso porque “os animais armazenam sêmen e só o liberam quando há possibilidade de o filhote ter comida”. O alimento, no caso, é o rato, que se multiplica com o maior acúmulo de lixo.
Conforme explica o assessor de comunicação do Corpo de Bombeiros do Ceará, major Sérgio Gomes, o perigo aumenta na zona rural e nas cidades. “Na roça, muitas pessoas não usam bota, luva e, quando limpam o terreno ou pegam em madeira não olham direito o local”.
O major informa que, no Ceará, a maioria das vítimas são homens “de seis a 70 anos”. E que a ocorrência se dá mais entre quatro e sete horas da manhã e entre 17 e 18h30min, em locais úmidos, de vegetação rasteira e perto de rios, mangues, lagoas e terrenos baldios.
Segundo o major Sérgio, a serpente peçonhenta mais comum no Estado é a Jararaca. Já a Cascavel aparece mais em regiões secas, áridas e com muitas pedras, como em Quixadá. A Coral é mais urbana, fica onde há muito lixo, mas prefere local subterrâneo. Em Fortaleza, as cobras aparecem mais na periferia, em especial perto de lagoas e rios. Perto do mar não, mas o Pirambu foge à regra devido ao lixo.
De um modo geral, as cobras se alimentam à noite. Por conta disso, quando picam uma pessoa durante o dia, a quantidade de veneno é menor porque este já foi depositado em outros animais. Em compensação, “em quem é picado à noite normalmente a ação do veneno é total”, como explica o major Sérgio.
Segundo dados do Instituto Butantan, local de pesquisas e estudos de ofídios, a maioria das serpentes brasileiras são de porte médio. Por isso as partes baixas do corpo são as mais atingidas nas picadas, sendo 70% os pés e pernas, 13% mãos e antebraços e 17% outras áreas.
Marta Araújo