Ex-presidente pode perder os direitos políticos em julgamento do Tribunal Superior Eleitoral e abrir caminho para ascensão de novos líderes da direita, que disputam o espólio eleitoral do ex-mandatário
A eventual condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) impulsiona as mobilizações em torno do possível sucessor do político na direita. O tribunal iniciou na última quinta-feira, 22, a análise de uma ação promovida pelo Partido Democrático Trabalhista (PDT) que pode tornar o ex-mandatário inelegível por abuso de poder político. Até o momento, apenas o Ministério Público Eleitoral já se manifestou, em parecer favorável à inelegibilidade do ex-presidente por desvio de finalidade. O julgamento será retomado na próxima terça-feira, 27, e, se o entendimento do MP Eleitoral se manter, Bolsonaro deve perder os direitos políticos por 8 anos e ser impedido de concorrer às eleições presidenciais de 2026. Ainda que o presidente nacional do Partido Liberal (PL), Valdemar Costa Neto, fale em “injustiça com o capitão” e afirme que Bolsonaro será o candidato do partido nas próximas eleições presidenciais, na prática, dentro da própria sigla, o ex-presidente também já é considerado inelegível. Aliados calculam, inclusive, que ele pode eleger 20% mais prefeitos em 2024, apenas como cabo eleitoral. “Se amputar Bolsonaro, ano que vem temos eleições, nossa intenção é fazer pelo menos mil das mais de 5.000 prefeituras. Imagina se deixa ele inelegível? Vão transformar ele em um mártir vivo, vamos fazer 2.000 prefeituras ou mais”, disse o deputado federal Marco Feliciano (PL-SP), em entrevista ao Pânico, da Jovem Pan News.
O cenário também deve ter reflexos a longo prazo, inclusive em 2026. A impossibilidade de Bolsonaro encarar a disputa à Presidência abre espaço para a ascensão de um novo líder da direita e acelera uma disputa que deve se aflorar ainda mais nos próximos anos: a corrida dos governadores. Despontam como eventuais herdeiros do bolsonarismo quatro governantes – todos aliados ou ex-aliados do político – bem avaliados e já conhecidos pelos eleitores de direita. São eles: Tarcísio de Freitas (Republicanos), Eduardo Leite (PSDB), Romeu Zema (Novo) e Ratinho Junior (PSD). A ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro (PL) também não é descartada, embora seu nome seja, inicialmente, mais cotado para uma vaga no Senado Federal. De acordo com pesquisa do Instituto Genial/Quaest, 47% dos eleitores são favoráveis a uma condenação que leve à perda de direitos políticos de Jair Bolsonaro, enquanto 43% são contrários. Dos participantes, 33% consideram Tarcísio de Freitas, atual governador de São Paulo, o favorito para substituir Bolsonaro nas próximas eleições gerais para presidente. A ex-primeira-dama aparece como segunda opção, com 24% de menções para ser “herdeira do bolsonarismo”, enquanto o governador mineiro Romeu Zema (Novo), soma 11%. Além disso, para 64% dos eleitores que votaram em Bolsonaro em 2022, o apoio dele a um outro nome aumenta as chances de voto nesse candidato, revelando que o ex-presidente se tornaria um importante cabo eleitoral da direita.
Politicamente falando, no entanto, a ligação com o ex-presidente não deve garantir uma transferência de votos para esses políticos. O cientista político Paulo Niccoli Ramires, da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), explica que, uma vez com os direitos políticos de Jair Bolsonaro suspensos, os eleitores de direita devem buscar novas figuras, sobretudo aqueles que já estão no exercício do poder, como os governadores, mas pode ser difícil encontrar alguém no mesmo patamar de Bolsonaro. “Talvez não haja alguém tão carismático como Bolsonaro a ponto de atrair tantos votos, mas ainda existem algumas figuras com preferência do eleitorado. É o caso do Tarcísio, a Damares Alves também. O Zema é o nome mais forte, já que expressa ideias mais liberais pelo Partido Novo. No entanto, ele está mais focado em Minas Gerais por enquanto. O Eduardo Leite é difícil ocupar esse espaço porque carrega algumas bandeiras mais progressistas. São os nomes mais fortes, mas sem talvez o mesmo carisma e a capacidade de atrair votos como o próprio Bolsonaro. Então, o futuro vai depender das pesquisas de intenção de voto e do resultado desse processo contra Bolsonaro”, concluiu.
🗞️ Por Caroline Hardt